quarta-feira, 23 de novembro de 2022 293x53

As Homenagens por ocasião da morte de Egerinêo Teixeira 4b4t1f

Estamos seguindo para o terceiro texto subsequente em que tratamos de algum fato ou momento da vida do jornalista e ex-prefeito de Orizona Egerinêo Teixeira. Há sete anos aproximadamente, que venho dedicando a pesquisar sobre a vida e obra do mesmo. Nesse período, selecionamos algumas centenas de documentos para o que seria um livro sobre a sua vida, mas que não foi possível por enquanto.
A partir da pesquisa sobre Egerinêo que avancei no estudo sobre a história da região sudeste de Goiás, especialmente de Orizona, além da genealogia das principais famílias. Parto do princípio que, dentro do possível, toda pesquisa deve ser documental e que os relatos orais servem para direcionar os estudos historiográficos. E é assim que faço em todos os textos em que apresento estudos históricos.
Com o falecimento, Egerinêo, que era muito próximo de Cônego Trindade, apesar de não ser um cristão devoto, foi sepultado na Igreja Matriz de Campo Formoso, junto de alguns notáveis e políticos influentes, como o seu sogro Cel. José da Costa Pereira Sobrinho. O prefeito nascera em 11 de janeiro de 1899 em Bela Vista-GO, filho de famílias principalmente de Santa Cruz (falaremos de sua biografia posteriormente).
Após a sua morte, recebeu muitas homenagens em outros municípios da região, sendo homenageado com nomes de ruas, avenidas, praças e povoados. Em Campo Formoso, até que fosse nomeado um prefeito interventor, seu sobrinho Geraldo Araujo Valle (filho do irmão Idomineo Marques) assumiu a função de encarregado de expediente da Prefeitura e emitiu os decretos nº 19, 20 e 21, abrindo crédito suplementar e normatizando homenagens. Sebastião Lobo, importante comerciante e fazendeira de Bela Vista, era naquela época prefeito do município e parente de Egerinêo. Assim, como primeira iniciativa, o homenageou dando nome da Rua 24 de outubro para Rua Egerinêo Teixeira, pelo decreto municipal nº 10. Um ofício foi encaminhado à viúva Carolina Teixeira, com data de 04 de julho de 1938:

 

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELLA VISTA

ESTADO DE GOYAZ

 

Em 4 de Julho de 1938.

 

Exma. Sra. Dona Carolina Teixeira.

 

                Comunico-vos que esta Prefeitura, prestando de uma singela homenagem e memória do grande filho de Bela-Vista que tombou morto, covardemente assassinado, no cumprimento de seu dever, baixou o decreto nº 10, do qual incluo a este uma cópia, que dá o nome de Rua Egerineu Teixeira a uma das principaes artérias desta cidade.

 

                Respeitosas saudações.

 

SEBASTIÃO LOBO

Prefeito.”

 

                Exatamente um mês depois, a esposa respondeu ao ofício, num gesto de agradecimento:

 

“Campo Formoso, 4 de agosto de 1938

 

Exmo. Sr. Sebastião Lobo

DD. Prefeito Municipal

BELA VISTA

 

                Acuso o recebimento do ofício s/n, datado de 4 de julho próximo findo, de V. Excia., em que teve a bondade de me comunicar da mudança do nome da Rua 24 de Outubro, dessa cidade, para o nome do meu falecido marido Egerinêo Teixeira, assim como da cópia do decreto relativo a essa mudança, lavrado por V. Excia.

                Peço a V. Excia. Que compreenda a minha gratidão por esse gesto de homenagem à memória do meu esposo, pois essa gratidão é daquelas que não se expressa por palavras.

               

                Atenciosas saudações.

 

CAROLINA TEIXEIRA”

 

                O primeiro ato de homenagem de Campo Formoso e Estado de Goiás através de medida que mudou a nomenclatura de espaço público foi a mudança do nome da estação de Ubatan e do povoamento ao redor para Egerineu Teixeira, permanecendo assim até 2009, quando a Câmara Municipal decidiu pela retomada do nome antigo. O jornal NOSSA FOLHA de Pires do Rio-GO, registrou em sua capa, na edição nº 23 de 04 de maio de 1940 a mudança do nome da estação:

 

ESTAÇÃO EGERINEO TEIXEIRA

                Egerineo Teixeira é o novo nome da antiga Ubatan, estação da Estrada de Ferro Goiás e ponto de desembarque do ageiro que procura a cidade de Campo Formoso. Logo após o amento trágico do inolvidável jornalista-prefeito, Egerineo Teixeira, a cidade de Campo Formoso e o Estado de Goiás sentiram-se profundamente golpeados na sua reserva de homens de valor; e um dos gestos que bem refletiram o apreço e a consideração que os goianos dispensaram sempre ao inditoso finado, foi o de emprestar o seu nome à Estação de Ubatan. Póstuma e merecida homenagem, expressiva revelação do veludoso carinho dispensado por Goiás a seu filho ilustre.

                Tudo a na terra; mas a memória do talento e das belezas do coração perdura respeitada pelos séculos. Egerineo que era a lidima encarnação destas nobres qualidades, não podia ficar esquecido na letargia do morto, pelos seus coestaduanos.

                A Justiça trajando a indumentária inconsútil da equidade, abriu um sarcófago e com o sinete da imortalidade retirou dali um nome: Egerineo Teixeira.

                Hoje Egerineo Teixeira é a Estação de Ubatan”.

               

Orizona também homenageou o ex-prefeito com o nome de uma das principais vias públicas, que ligava o Centro ao bairro Nossa Senhora de Fátima e a saída noroeste da cidade: A avenida Egerineu Teixeira. Outras localidades como Anápolis, Goiânia e Catalão possuem vias públicas que homenageiam o prefeito-jornalista.
Talvez a homenagem mais expressiva foi a transferência do corpo de Egerinêo para Bela Vista, amplamente registrada e abordada na época pela imprensa e por outros como os escritores José Lobo (cunhado de Egerinêo), Victor de Carvalho Ramos e mais recentemente por Olímpio Pereira Neto em seu “Orizona: Campo e Cidade – 2ª edição). A pedido da comunidade bela-vistense e de sua família, o corpo foi exumado, em um cortejo marcado por homenagens em Campo Formoso, Vianópolis, Bonfim (Silvânia) e Bela Vista, e depois foi sepultado na terra natal. Um texto expressivo e que marcou a história da imprensa goiana foi a crônica “Ossos que Cantam Vitória”, do Cônego José Trindade da Fonseca e Silva (Cônego Trindade), pároco de Campo Formoso e Santa Cruz, que fala de sua vitória, mesmo sendo fisicamente abatido por um adversário.
Citamos abaixo algumas publicações a respeito de Egerinêo Teixeira, feitas por amigos e colegas da política e da imprensa após o seu falecimento:

 

CÔNEGO TRINDADE (padre, escritor e político):

“Egerinêo morreu antes do tempo. Pesava sobre ele aquele espírito irrequieto de mocidade que tudo quer compreender seu organismo, por másculo que fosse, era resistente para tanta elucubração. Dir-se-ia! ‘Erásmico’ da conquista de um ideal. Seus preceptores foram os livros policrômicos. Leu todas as correntes filosóficas. Foi político para por em prática todas as suas ideias humanistas”.

 

GUILHERME XAVIER DE ALMEIDA (político e intelectual goiano):

“... Em campanha não conhecia o meio termo. A sua gargalhada enorme soava como um clarim. De seu tinteiro forravam ondas de sarcasmos. Às vezes terá ofendido mais do que devia... Quem tem os olhos nas estrelas pode engomar-se nas encruzilhadas. Mas a verdade, para quem lhe contempla a trajetória geral da vida, é que sua jornada foi para a frente e para o alto...”

                               

VITOR DE CARVALHO RAMOS (escritor e jurista goiano):

“... Sua situação na imprensa deu-lhe lugar de relevo entre os maiores polemistas da terra goiana. Tinha personalidade. Seu estilo, em idioma escorreito, encantava pela simplicidade, clareza e verve. De uma coragem cívica a toda prova, arriscava a vida quando saía a campo a reduzir às próprias proporções os zoilos do poder, que a si mesmo se arrogavam o direito de espoliar o patrimônio da comunidade. Com uma penada punha abaixo os falsos ídolos, de corpo de bronze e pés de barro. Movia-o a combate-los não a despeito, o ódio pessoal ou quaisquer interesses subalternos, mas o desejo único de bem servir a causa coletiva”.

 

ODORICO COSTA (jornalista e político):

“Jornalista perfeito, político dos mais nobres e dos mais puros ideais, cidadão inatacável, Egerinêo Teixeira enche os traços fulgurantíssimo largos trechos da história de Goiás destes últimos anos.

De traços tão brilhantes, que fazem lembrar essas figuras formidáveis das fronteiras dos prédios entre fidalgos e portugueses e os mouros, esses lidadores magníficos vestidos de lorigão, de malhas de ferros, empunham do durindanas e puríssimo aço toledano, alcançando-se desabrido no alarido das justas e dos recentros, iluminados de fé e ordenado de amor por sua terra”.

 

GERALDO ARAÚJO VALLE (jornalista orizonense):

“Foi um bólido que ou, cintilou e desapareceu. Se Egerinêo Teixeira fosse carioca ou paulista, seu nome seria hoje um impacto na história, especialmente de jornalismo, da literatura e da política. Como político é um inadaptável por ser intransigente e idealista puro. Como literatura trazia na beleza do estilo, no emprego originalíssimo do  vocabulário e na riqueza de imagens, algo singular, pessoal, único, isso na clareza e simplicidade das expressões, sem empolamentos e rebuscamentos”.

 

OFÉLIA DI TEIXEIRA (professora e jornalista orizonense):

Falar sobre meu pai, é voltar ao ado, é reviver momentos alegres e também momentos tristes. Meu pai tinha uma grande vocação pela política, muito inteligente, arrojado, tinha loucura pelos livros, possuía uma cultura e preparo istrativo. Quando solteiro foi nomeado o promotor público, antes de ser prefeito em Campo Formoso. Manobrava a política e era um grande jornalista. No setor da agricultura, ele contratou um agrônomo, vindo de Paracatu-MG, para a implantação da agricultura mecanizada. No setor de transporte, muito contribuiu para a realização de várias obras, como as rodovias para Pires do Rio, Santa Luzia (atual Luziânia), Bonfim que hoje é Silvânia. Meu pai conseguiu uma jardineira bem moderna para a época, a qual fazia o trajeto Ubatan (hoje Egerineu Teixeira) a Campo Formoso, atual Orizona. Era um homem com grande potencial, corajoso e não poupava esforços para fazer um bom trabalho”. (DEPOIMENTO A DEUSENIR ALVES DE OLIVEIRA).

 

Com o tempo, as pessoas vão sendo esquecidas ou ficam desconhecidas das novas gerações. É um processo bastante natural. Por isso mesmo é importante reativarmos essas memórias.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA

(E-mail: [email protected])

 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022 463e6s

A minha relação e não-relação com o Cigarro 4e5b4c

Na minha infância e primeira adolescência, em muito pouco convivi com pessoas fumantes. Vivendo na comunidade Estiva de Cima, vinculada à sede do povoado de Firmeza, em Orizona, não convivia com pessoas que tinham esse hábito, uma vez que o tabagismo era muito combatido naquela comunidade católica, organizada através de um núcleo das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base.
Naquela época, não existia nenhum fumante ali e apenas um dos viventes fumara na juventude, mas também tinha deixada o hábito e não cheguei a viver esse período. As poucas vezes com convivi com fumantes foi nas visitas a meu avô materno, que era adepto do cigarro, e na pouca convivência de alguns tios, mas que não me afetava. Também estava sujeito na convivência na escola secundária, nos jogos de futebol que ia sempre, nas saídas para outros povoados e para a cidade (eu não saia muito). Com o tempo e após conhecer os lugares, concluí que a média de fumantes em Orizona é inferior a outros lugares pelo qual ei, talvez pela consciência da população, adquirida através das CEBs, igrejas cristãs em geral e organizações civis, que realizaram campanhas ao longo dos anos com um propósito educativo.
Depois de concluir o Ensino Médio e Técnico em Agropecuária, fui viver em Urutai e fiquei mais exposto, pois eram muitos os colegas que apreciavam aquela droga lícita, mas posso dizer que nunca fui um fumante ivo em toda a minha vida, uma vez que era só sentir a fumaça do cigarro e logo saía de perto, pois me incomodava muito.
A partir do final de julho de 2018, por problemas pulmonares, fui percebendo que tinha alguma doença pulmonar crônica. Em todas as consultas e exames que fui, quando o/a profissional de saúde me atendia pela primeira vez, era (e é) feita sempre a mesma pergunta:
- Você é fumante? Vive com alguém que fuma?
Outras perguntas, pelo diagnóstico de Pneumonite de Hipersensibilidade, também aconteciam algumas: se eu trabalhava em mina de carvão; se eu trabalhava em olaria; se tinha contato com mofo; se em minha casa tinha pássaros como pombos e calopsitas. Tirando o mofo que é difícil de controlar, todas as hipóteses eram descartadas, mas os questionamentos sobre o tabagismo eram inevitáveis.
Não entendo, mesmo sabendo os motivos, que o cigarro comum seja considerado uma droga lícita. São diversas as substâncias tóxicas presentes, que se fossem isoladas e consumidas em maior quantidade, seriam letais em uma única vez de consumo. Portanto, a morte é parcelada em ‘doses homeopáticas’ e provavelmente a vida dos usuários será abreviada por doenças pulmonares, cardiovasculares ou por alguma espécie de câncer.
Se não convivi com tabagistas até a minha adolescência, isso ou a ser comum na vida adulta. Obviamente que para quem vive em qualquer cidade, essa convivência é inevitável, mas ei a viver ao lado de vítimas do produto: em minha família, vi meu avô vir definhando a ter a sua vida tomada pelas consequências do consumo, apesar de ainda poder experimentar uma vida longa. Na família de minha esposa, também convivi com usuários.
Relatei tudo isso para comentar sobre o impressionante consumo do cigarro de nicotina que é possível observar em Porto Alegre, principalmente entre pessoas com idade abaixo de quarenta anos. E é um consumo generalizado, em classes sociais diferentes, entre as mais diferentes correntes ideológicas e níveis de instrução. No século XXI, começou-se a retomar as práticas incentivas pelo cinema nos anos de 1940.
Hoje, além do cigarro comum, temos os cigarros eletrônicos, narguilés e outros, inclusive drogas ilícitas, que tem em comum, além de proporcionar a dependência química, o risco iminente de doenças graves e de mortes, tanto entre consumidores, quanto em pequenos agricultores que cultivam o tabaco para sobrevivência e enfrentam sérias doenças por conta da atividade, muito comum no Sul do Brasil. Os dados oficiais indicam uma redução significativa no consumo desde 2006 a 2021, quando caiu de 15,7 para 9,1% dos brasileiros em idade adulta, sendo que o público masculino é o maior consumidor (Vitegel Brasil). Em 2015, foram gastos no Brasil, aproximadamente 26,3 bilhões de reais no tratamento de doenças pulmonares e cardiovasculares relacionadas direta ou indiretamente ao consumo de cigarro.
Para quem luta pela sobrevivência diariamente e vê tantas pessoas tentando se manter vivas frente a doenças pulmonares, corre-se o risco de ser preconceituoso às vítimas do vício, mas é um exercício que tenho feito no sentido de evitar julgar os fumantes. Mas nem todos tem a mesma ‘paciência’ que eu. Na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, muitos pacientes, acompanhantes e funcionários (inclusive da pneumologia e transplante pulmonar), deixam os hospitais para fumarem nas praças. Um dia desses, enquanto fazia a reabilitação pulmonar, a fisioterapeuta, olhando pelas enormes vidraças da sala, me disse:
- Está vendo o quanto as pessoas fumam aqui? Logo estarão aqui dentro procurando socorro, lutando pra não morrer!
O cirurgião torácico José de Jesus Peixoto Camargo, o primeiro a realizar transplante pulmonar na América Latina, em 16 de maio de 1989, o fez com um jovem agricultor de Santa Catarina, que tinha na época, 27 anos de idade, e conta que era fumante e sofria com um enfisema pulmonar. A cirurgia foi um sucesso, mas depois de algum tempo, o mesmo voltou a fumar e não sobreviveu, mesmo com um pulmão novo.
Vejo nessa realidade, a necessidade dos poderes públicos e da sociedade civil é fundamental. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA), “A prevalência de tabagismo é o resultado da iniciação (novos usuários de tabaco) e da interrupção do consumo (por cessação do tabagismo ou morte). A identificação dos fatores determinantes da iniciação e da cessação do tabagismo é, portanto, fundamental para o planejamento de ações específicas para o controle do tabaco”.
O Ministério da Saúde e as secretarias estaduais e municipais, podem ser munidos de infraestrutura, equipamentos e o país possui várias instituições de pesquisa para enfrentamento deste problema. O que falta é orçamentos suficientes nos entes federados e ações direcionadas nesta área. Infelizmente, o tabagismo enriquece empresas, contrabandistas e favorece a um perigoso mercado mundial, que vive de lobbie para se manter.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA

Imagem: Ultraspecialisti.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022 1x2z47

Relatos sobre o assassinato do prefeito e jornalista Egerinêo Teixeira xz1b

A expressão “quem conta um conto, aumento um ponto” é tão comum que não sabemos de onde surgiu. Para ilustrar acontecimentos na história de Campo Formoso (Orizona), vou correr o risco de cometer devaneios em relação aos episódios que levaram à morte do jornalista e ex-prefeito Egerinêo Teixeira, em 06 de junho de 1938, uma quarta-feira.
Para as pesquisas de seu livro, o professor Paulo Acácio de Sousa em uma ocasião entrevistou o senhor Ivo Costa, que na época do crime era um jovenzinho e estava no largo da matriz de Campo Formoso, com outras pessoas, em local onde foi o posto de gasolina e a residência familiar do Sr. Florentino Vieira Pereira (Florentino Albino). Paulo Acácio ouviu a história e em dias subsequentes me contou em sua residência. Cheguei em casa e depois de um tempo transcrevi a mesma para um caderno. Portanto, é possível que eu mesmo tenha modificado nesse interim as informações a mim readas, apesar do relatado ser muito parecido com o que apareceu em jornais da época.
Conforme contam, enquanto prefeito, Egerinêo teve a atribuição de distribuir (redistribuir) os cartórios do município, conforme determinações do governo de Getúlio Vargas. A família de Benedicto Almeida (foto abaixo ao volante), um protegido de seu irmão Cylenêo de Araújo, tinha interesses em obter a concessão de um cartório, mas o prefeito não cedeu, deixando-o enfurecido e especialmente a sua esposa, Geronima Goulart de Almeida (Bebé), que tinha grande influência sobre seus atos, o pressionando a dar cabo no prefeito.
Contava-se na época em Campo Formoso, quase como uma lenda urbana, que a mulher tinha chegado a dizer ao marido:
- Ou você mata o Egerinêo, ou eu visto as suas calças e faço eu mesma.
Conforme presenciado por testemunhas, o episódio aconteceu assim:
Egerinêo descia a rua Cel. José da Costa a pé, no meio da manhã, vindo ou de sua casa ou da Prefeitura (o mesmo morava onde atualmente é a Agenfa e a Prefeitura funcionava acima do Mini Box Boca de Lobo). Benedicto estava na janela de sua casa à rua Cel. José Pereira Cardoso fumando e olhando para a praça (vivia em uma casa de residência onde hoje é a Casa dos Parafusos). Ao ver o prefeito descendo a rua no outro lado da praça, deu a volta e foi abordá-lo.
Quando o algoz alcançou a esquina (onde funciona a Casa do Fazendeiro), chamou Egerinêo que tinha ado para frente e começava a descer a rua abaixo da praça:
- Vira para que eu possa te matar.
Egerinêo virou e o mesmo atirou por algumas vezes, sendo que cinco o atingiram: “dois pelas costas, dois de flanco e um de frente”. Dizem que o prefeito tentou revidar atirando nele alguns tijolos, mas já era tarde. Chegaram alguns populares (tinham dezenas de pessoas na praça) e Benedicto fugiu dali mesmo, atravessando o ribeirão Santa Bárbara e não mais sendo visto até mais tarde, quando se apresentou à polícia. Esta versão oral pode ser confirmada por matérias dos jornais "O Estado" (SC, nº 7.391 de 16/06/1938), "O Jornal" (RJ, de 18/06/1938), entre outros.
Após o ocorrido, a delegacia de Polícia de Campo Formoso foi designada para conduzir o inquérito, mas pela falta de celeridade e pela pressão local, foi encaminhada pela secretaria estadual de Justiça e Segurança Pública uma comissão para investigar o caso, comandada pelo Sr. Hamilton Vellasco, que saiu da antiga capital goiana (Cidade de Goiás). Permaneceram entre o final de julho e meados de agosto de 1938 e retornaram para Goiás.
Depois de apelação da defesa junto a corte de Pires do Rio no início de novembro, o júri foi transferido para Goiânia, sendo realizado em 12 de dezembro de 1938. O senhor Benedicto Almeida chegou ao Tribunal do Juri acompanhado de impressionante assistência jurídica, sendo ao final da audiência, absolvido da acusação, mesmo tendo aquele crime ocorrido na presença de grande número de testemunhas e provocado grande comoção local e nacional.
Egerinêo era um jornalista muito conceituado, colunista de importantes veículos de comunicação em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, além de político muito atuante (de gravata borboleta na foto acima, com o Conselho Municipal de Campo Formoso). A dúvida que ficou a respeito desse caso é se o seu assassinato não teria sido um pretexto criado pelos adversários políticos, que o odiavam pela sua atuação, mas que no período que se tornou prefeito, ou a ser mais brando nas suas posições e até reduziu a atuação na imprensa. Sobre a sua atuação na imprensa os adversários o chamavam de ‘cincerro de Campo Formoso’ (cincerro=polaque).
Além de jornalista e político, foi comerciante e produtor rural, atuando, pelo que sabemos, no cultivo de algodão, arroz, bovinos e suínos. Chama a atenção um bilhete deixado na data de seu assassinato na Prefeitura, em que o colega e amigo Joaquim Marçal da Silveira combinava pegar o caminhão e irem juntos buscar uns porcos em determinado lugar. Provavelmente o prefeito não chegou a ler esse bilhete. Era também um homem muito culto, um autodidata. Deixou como herdeiras a esposa Rita Carolina Amália da Costa Teixeira (filha do Cel. José da Costa) e a filha Ofélia.
A respeito do algoz de Egerinêo Teixeira (busto abaixo), Benedicto foi posteriormente prefeito de Palmeiras de Goiás (1951-1955). Partidários do prefeito de Campo Formoso e opositores do governador Pedro Ludovico Teixeira acusavam o mesmo de ser o mandante do crime, mas não há nenhum indicativo que isso tenha ocorrido. A própria filha de Egerinêo, a professora e jornalista Ofélia Teixeira, acreditava que se não tivesse sido eleito prefeito, provavelmente o pai não teria sido morto daquela forma.
Contudo, a atividade jornalística na época era uma função de risco, uma vez que predominava o coronelismo, não totalmente cessado com o golpe de Estado de Getúlio Vargas em outubro de 1930: em 20 de maio de 1922, sábado, o jornalista Moisés Santana foi baleado na redação do jornal Lavoura & Commercio pelo prefeito em exercício de Uberaba-MG, por causa de um poema satírico de sua autoria, publicado no jornal Separação. Moisés faleceu no dia seguinte e o prefeito foi absolvido por “legítima defesa da honra” e o referido poema sequer aparecia no inquérito.
Antônio Americano do Brasil, natural de Bonfim (Silvânia), era médico, oficial do exército, político, folclorista, escritor e jornalista e foi assassinado em Santa Luzia (Luziânia) em 20 de abril de 1932, em uma contenda muito documentada, mas nunca explicada. Ambos tinham forte relação com Campo Formoso e são apenas alguns dos casos que comprovam que a atividade jornalística era mais perigosa que a política.
São feridas que aparecem em nossa história ada, mas também presente. Ainda somos “neandertais” quando se fala em tolerância. Fatos recentes, muito semelhantes a esses do ado, mostram que a nossa democracia e o nosso censo de tolerância e aceitação das diferenças precisam avançar muito.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA

quarta-feira, 16 de novembro de 2022 6m5p1

A Tentativa de mais uma Retomada zh32

Diz um autor, querido nosso, que superamos a falta de vontade de escrever escrevendo. Tenho buscado superar essa falta da escrita, pois tenho tarefas importantes neste campo, como a conclusão do livro com o amigo Jeová Vieira sobre os Vieira Pereira de Orizona, bem como sobre outras famílias orizonenses, além de alguns trabalhos pessoais, uma vez que na atual condição, não é possível encampar mais algo além disso.
Uma tarefa que não tenho conseguido prosseguir se refere ao blog Orizona em Foco, que inauguramos em março de 2009, tendo um papel importante pelo menos até 2013, quando por pressões políticas locais e até mesmo desmotivação, deixei de publicar as notícias locais. Depois, disso, muitas foram as retomadas e sempre surgia o medo por alguma matéria ou tema polêmico e eu deixava o Orizona em Foco.
Com os problemas de saúde a partir do segundo semestre de 2018, praticamente esqueci o blog e apenas em uma vez o retomei, não conseguindo dar continuidade, pelas próprias dificuldades na escrita (às vezes não consigo escrever manuscritos nem digitar), que inviabilizava totalmente, além do trabalho, outras atividades que tinha como hobbie, como a referida página.
Fora do município de Orizona por um tempo indefinido, tenho despertado o desejo de voltar a movimentar o blog. E pretendo fazê-lo, mas não com as costumeiras notícias, que até hoje aram de 2.500 postagens. O farei com crônicas cotidianas e ensaios sobre a nossa história local.
E assim será, na espera que nosso antigo e um novo público possa nos acompanhar e seguir pelas redes sociais e que desbravemos até quando for possível.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA

segunda-feira, 26 de setembro de 2022 4c2717

Egerinêo e a criação da Comarca de Pires do Rio b141r

A querida cidade de Pires do Rio completa em 9 de novembro próximo, seu primeiro centenário de história. Considero a capital cultural de nossa região. Alguns orizonenses e cidadãos que adotaram o município, muito contribuíram para o desenvolvimento piresino. Um destes foi o belavistense e ex-prefeito de Orizona, Egerinêo Teixeira.
 
Conforme destacou Francisco Accioli Martins Soares, em seu “Pontos Históricos de Pires do Rio”, Egerinêo Teixeira, o político e intelectual de Campo Formoso, foi um colaborador na luta pela elevação de Pires do Rio a Comarca. Como retribuição, Dr. Taciano Gomes de Melo, líder piresino, organizou uma recepção (sessão solene) para homenagear o colaborador. Estiveram presentes, Dr. Cyllenêo de Araújo (Leo Lynce), João Accioli, Francisco Sousa Lobo, Luciano Félix de Sousa e Armindo Teixeira França (cidadão de Campo Formoso).
Egerinêo fez parte do Clube Cívico de Pires do Rio (mesmo não morando lá). O clube seguiu com o fim de criar um gabinete de leitura, adquirir obras literárias e solicitar da imprensa jornais e revistas.
Fizeram parte: Taciano Gomes de Melo, Francisco Accioli, Joaquim Antônio Teixeira, Graziela Félix de Souza, Cyllenêo de Araújo, Abilon Borges (cidadão de Campo Formoso), entre outros.

ANSELMO PEREIRA DE LIMA


Fonte:
- SOARES. Francisco Accioli Martins. Pontos Históricos de Pires do Rio. Goiânia: Nossa Folha, 1988. 67 p.

sexta-feira, 3 de junho de 2022 5p154e

Orizona recebe 2ª Etapa da Copa Verão Velocross neste final de semana 3q6n2d

REDAÇÃO
- Neste final de semana, outro evento promete movimentar a cidade de Orizona. Realizado pelos vereadores Nagibinho Duarte e Flávio Dias e pelo produtor rural Edson Geraldo de Sousa (Cocá), acontecerá de 04 a 05 de junho, a 2ª etapa da Copa Verão Velocross.
Dentro do Circuito do Campeonato Goiano Velocross 2022, as competições serão realizadas na AABB de Orizona.

Foto: Moto on-line.

Começa nesta sexta-feira o Forró Show 2022, promovido pela Prefeitura de Orizona 1d48j

DA REDAÇÃO
- Inicia nesta sexta-feira, 03 de junho, a programação festiva do Forró Show 2022, que acontecerá no Estádio Municipal Dom Antônio Ribeiro de Oliveira, promovido pela Prefeitura Municipal de Orizona. Os portões serão abertos diariamente a partir das 19 horas, com entrada gratuita.
O espaço oferecerá atrações como barracas de comidas típicas, gastrobares, área para crianças (rua do Lazer, segurança especializada e controle sanitário. Neste primeiro dia haverá apresentação cultural com a Quadrilha Buscapé e shows musicais com Lu & Luan; Derick & Eduardo; Edinho Sanfoneiro; Pedro Paulo; Edi Júnior & Sandro; e Renato Sanfoneiro. No sábado (04), a atração principal será a dupla Edy Britto & Samuel.
Sobre a segurança, será proibida a entrada com bebidas alcoólicas e a equipe responsável pela segurança fará controle com detectores de metais. Do ponto de vista sanitário, a Prefeitura está recomendando o uso de máscaras faciais dentro do espaço do evento.

quarta-feira, 1 de junho de 2022 6273x

Confira o calendário de vacinação contra a COVID-19 para o restante da semana 1z5h6y

PMO/SMSA Prefeitura Municipal de Orizona, através da Secretaria Municipal de Saúde de Orizona, informou em suas redes sociais, a programação do restante desta semana, da vacinação contra a COVID-19:
02 de junho de 2022 (quinta-feira):
- 3ª DOSE para pessoas de 12 A 17 ANOS que receberam a 2ª DOSE HÁ 4 MESES.

03 de junho de 2022 (sexta-feira):
- 1ª DOSE para PESSOAS com 18 anos e mais;
- 3ª DOSE para PESSOAS que receberam a 2ª DOSE HÁ 4 MESES.

A vacinação acontecerá no horário das 8 às 14 horas, na Unidade Básica de Saúde do bairro Santa Maria II.

Morreu em Goiânia antropólogo nascido no município de Orizona 3q5i6h

DIÁRIO DE GOIÁS
- Morreu na noite deste sábado, 28 de maio, em Goiânia, aos 78 anos, o professor e antropólogo Rômulo Pinto de Souza, figura conhecida no meio acadêmico, após desenvolver um quadro de trombose e embulia pulmonar. Formado em Letras e Antropologia, o professor era dono de um dos maiores acervos das etnias Xavante e Bororo do Estado.
Em casa, no tradicional bairro de Campinas, Rômulo recebia os alunos e transformou um dos cômodos em um verdadeiro museu, com peças e artefatos produzidos pelos nativos em tribos de Goiás, Mato Grosso e Pará.
Rômulo ajudou a criar o Museu Antropológico da PUC Goiás doando peças de seu acervo. Trabalhou na Funai pesquisando, conhecendo e defendendo a cultura indígena brasileira.
Rômulo Pinto de Souza nasceu em Orizona, Goiás, e desde cedo mostrou um grande interesse pela leitura, estimulando a se mudar bem logo do município. A paixão pela linguagem o fez seguir carreira como professor. Função que exerceu ao longo de mais de 50 anos. O professor ministrava aulas de português, inglês, além de ser fluente em francês e espanhol.
Foi professor do Colégio Santa Clara e, por muitos anos, esteve a frente das salas de aula do Colégio Delta em Anápolis e em Goiânia. Também deu aula no Colégio Classe, na capital.
Nos últimos anos, Rômulo se dedicou a dar aulas particulares de inglês e português em casa. Assim ele fazia amigos e incentivava a todos sobre o poder da informação e da leitura.
O professor era conhecido ainda por emprestar livros e também por dar dicas de filmes, documentários e artigos científicos aos alunos. Ele também analisava a formação cultural de povos e nações espalhadas pelo mundo e contribuía com dados científicos em teses de mestrado e doutorado de diversas áreas.

Texto de Leonardo Calazenço, extraído do Diário de Goiás.

terça-feira, 31 de maio de 2022 5a29

Mulher é encontrada morta em carvoaria no município de Orizona 456e1v

POLÍCIA
 - Desde a década de 1980, as carvoarias se instalaram com mais intensidade e a atividade de extração de madeira para produção de carvão ocupou boa parte das áreas de cerrado do município de Orizona e de todo o Estado de Goiás, tendo aberto caminho para a produção de cultivos anuais, que atualmente tem grande impacto na economia local e regional. Reduzida a atividade da produção de carvão para as siderúrgicas, atualmente as carvoarias, em menor número e volume, tem outras finalidades, predominando a produção de carvão para atender a demanda de produção de carvão para churrasco.
Desde os tempos mais remotos dessas atividades, foi comum o convívio intenso de trabalhadores e trabalhadoras, muitos vindos de outros Estados, em busca de sobrevivência e dispostos a enfrentar o perigo de uma atividade de bastante risco, dado o modo que ocorre, lidando com o fogo e com o vácio necessário dentro dos fornos, além das situações de conflito. Por isso, não deixa de ser comum, notícias de acidentes e mesmo tragédias nesses espaços.
Com amplo espaço na mídia, foi o que ocorreu neste final de semana na área rural do município. No dia 29 de maio, último domingo, o Batalhão Rural da Polícia Militar foi acionado por conta de um incêndio em uma carvoaria próximo ao povoado de Buritizinho, no município de Orizona. No local os policiais depararam com o corpo carbonizado da Sra. Ilda Rodrigues da Silva, 40 anos, natural do distrito de Domiciano Ribeiro, município de Ipameri/GO. Segundo relato do esposo da vítima, que trabalha na carvoeira, a mesma chegou na carvoeira por volta das 10 horas da manhã com o intuito de auxiliá-lo na retirada do carvão, porém a mesma havia ingerido bebida alcoólica sendo avisada do perigo.
Ainda segundo relatos do esposo, enquanto o mesmo buscava água no córrego há aproximadamente 100 metros do local, a mesma possivelmente abriu o forno, momento em que ocorreu o incêndio. Ao buscar pela esposa, a encontrou dentro do forno já caída, momento em que tentou retirá-la do local, conseguindo arrastá-la somente até a entrada do forno devido ao calor e a fumaça, sendo que o corpo estava tomado pelo fogo.
O corpo carbonizado ficou no local sendo o perímetro isolado pelos policiais do Batalhão Rural até a chegada da Polícia Técnico Científica e o Instituto Médico Legal.
Diante da situação, o esposo da vítima, Sr. Carlos Roberto da Conceição da Silva, 36 anos, natural de Caxias-MA, entrou em grave estado de choque sofrendo repetidas convulsões, momento em que a equipe de policiais do Batalhão Rural realizou os primeiros socorros e, devido à distância para atendimento médico urgente, transportaram-no para a Unidade de Pronto Atendimento da cidade de Orizona.
Sobre esse episódio, o inquérito Policial Militar será encaminhado e adicionado aos autos do processo.


Informações e imagens: Polícia Militar/ Batalhão Rural.